domingo, 26 de agosto de 2012

As pessoas morrem...



No início do mês uma menina da minha cidade morreu em decorrência de complicações da cirurgia bariátrica. Não sei explicar exatamente o que houve, até porque cada um diz uma coisa e ela não era uma pessoa tão próxima... Parece que foi parada respiratória, outros falam de embolia, enfim, isso é o que menos importa. Quando a gente não sabe de um assunto, acho que deveríamos ficar calados. Mas as pessoas insistem em falar do que não sabem. E eu, como fiz essa mesma cirurgia dela, ouvi cada bobagem nesses últimos dias que só Jesus.

Acho que quando uma pessoa resolve fazer uma cirurgia bariátrica não é porque ela está feliz da vida, não tem nada mais interessante pra fazer e resolveu operar. Há todo um contexto por trás disso... baixa alto-estima, horas de choro, sentimento de desvalorização, desconforto, enfim, definitivamente ela não se sente bem como está e quer melhorar. E eu dou todo apoio. Não fui sempre assim não. Já passei por uma fase em que achava que Deus me fez gorda e eu tinha que morrer assim. Mas daí entendi que Deus queria me ver feliz e que qtos kgs eu pesava era o que menos importava pra Ele. Importava pra mim... eu queria ser magra. E depois de anos de dietas sem resultado, vi solução na bariátrica e encarei. 

“Qualquer cirurgia tem risco” foi a primeira frase que meu médico me disse quando perguntei se podia morrer. Bem animador, né? Mas achei ele realista, honesto! Pensei bem e decidi que precisava correr esse risco. Minha mãe, minha tia, o papagaio e o periquito, todos foram contra. Tentaram me tirar do hospital até quando eu estava na porta do centro cirúrgico. Eu sabia de todos os riscos que corria. Mas não conseguia pensar neles. Só pensava nos benefícios... eu finalmente ia usar uma roupa escolhida por mim, porque eu gostei dela e não porque só tinha daquele tamanho. Eu finalmente ia olhar no espelho e gostar do que via. Eu finalmente ia me sentir feliz. E pensando nisso operei e estou aqui hoje, 1 ano e 9 meses depois  ótima. Nunca vomitei, nunca tive complicação nenhuma, nunca me arrependi... faria tudo de novo. Aliás, tenho um arrependimento: não ter feito antes. 

Acredito que a moça que faleceu sabia dos riscos que corria, mas assim como eu, decidiu encarar porque ela não devia estar feliz como estava. Entendam que existe uma diferença muito grande entre viver sorrindo e estar feliz. Ela era simpática, querida por todos, uma pessoa maravilhosa. Mas ninguém sabe o que se passava no íntimo dela. Ninguém sabe como ela se sentia de verdade quando deitava a noite para dormir. 

No dia que ela morreu (uma fatalidade, mas que pode acontecer com qualquer um até porque a morte só arranja uma desculpa) eu ouvi de pessoas próximas frases do tipo: “é um absurdo fazer cirurgia pra emagrecer”, “se tivesse força de vontade fazia dieta e estava viva”, “desistiu de se esforçar e foi recorrer a cirurgia” (como se não houvesse esforço nenhum com a cirurgia né?), enfim, essas foram as bobagens mais “bonitinhas” que ouvi. Fiquei pensando com os meus botões que poderia ter sido comigo. E é lógico que ninguém quer morrer. Então pensei que precisava deixar uma coisa clara, para que as pessoas próximas de mim saibam o que eu acho quando isso acontecer comigo (sim, eu sei que não vou ficar pra semente):
Eu, Nathalia, sou MUITO feliz magra, do jeito que eu sempre sonhei. Não me interessa o que acham a respeito da cirurgia, foi ela que me devolveu o sorriso, o bem estar, a alto-estima. E eu sou muito grata por isso, não importa o que aconteça. Faria a cirurgia de novo, com a mesma equipe, com os mesmos riscos. 

Só te peço uma coisa: antes de falar do que não sabe, procure se informar... ninguém se submete a uma cirurgia bariátrica por hobby. Faz isso por necessidade, por vontade de viver, por desejo de mudar. Então, respeite isso! Por que “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é...”